sábado, 25 de abril de 2009

Fábio Fabrício Fabretti

Blogo porque a minha madrugada assopra em meus ouvidos e grita na surdina. A minha madrugada é caos e fala por si mesma. O seu existir machuca, incomoda, tange, acalenta. A madruga me envolve em seus braços de serpente. A madrugada é o som não-dito. É a música do escuro. A cumplicidade da noite cuja imortalide depende da ausência do alvorecer. Blogo porque as madrugadas se transformam em palavras, alucinógenas, oníricas, soníferas... heroínas da insônia. Blogo porque os sufixos e prefixos criam asas e sobrevoam o teto estrelado da minha madrugada.Então preciso blogar. E tomar cafeína. Engolir uma aspirina. Cheiro de naftalina. Fumar nicotina. Penso em estricnina. Imagino uma morfina. De repente, tudo ao meu redor termina com ina. Blogar é uma cocaína. Blogo porque as palavras podem ser cacos de vidros. Fragmentos. Estilhaços. Pedaços. E podem ser algodão também, daqueles que vendem nos parques ou que estancam as feridas nas farmácias. Macias. Suaves. Doces. Blogo porque tenho a palavra na gaiola querendo fugir. Palavras negras. Palavras brancas. Palavras selvagens. Palavras domesticadas. Criaturas indecifráveis, as palavras. E só a escrita as detêm. Ou tenta detê-las. Mas blogo também porque tem o dia e a tarde. E blogar é uma órbita que não foge da minha rota. Um sentido que não existe. Uma vida que a minha morte não mata. Blogar é uma resposta sem pergunta.

- Fábio Fabrício Fabretti -

www.fffabretti.com

 
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