segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Blogo-me, blogo- se! Marcelo amm

Blogo-se eu estiver no meio da rua, pela beira do mar, pelo preço da margarina, pelo pão com gasolina. Pelas pessoas nuas, pelo que eu não posso falar, pelo pierrô e a colombina, pelo não da alma com goiabada, pelas pessoas ensaboadas. Pela lua, pelo sachet do chá, pela roupa que não combina, pela bolinha de sabão e pelo abracadabra. Blogo –se não gosto daquela novela e se aquele comercial for ridículo, porque amo tal livro, tal musica, tal comercial, tal filme. Porquê as letras são divertidas e demoram mais tempo para serem escritas do que o tempo gasto para a realização do que foi escrito. Porque o mundo é um dicionário e as palavras são consensos inteligentes do que se quer dizer. Porque tudo já foi escrito e talvez eu consiga dizer de outra forma o que já foi dito? - todas as palavras já foram gastas, algumas estão sendo esquecidas e Renato dizia que sabia rimar romã com travesseiro e achava que o imperfeito não participava do passado. Porquê Marcelo – continua queimando tudo até a ultima ponta e á procura da batida perfeita – D2. Pelo erro humano, por ser demasiado humano, porque as palavras subiam-me a garganta e morriam presas atrás dos meus dentes protegidos por lábios grossos e um par de íris cor de mel que os fiscalizava. Blogo-se isto for uma marca moderna de comunicação sem pretensão e capaz de causar uma revolução. Porquê as minhas paredes estomacais não tem ouvidos e eu não tenho útero figurado, propriamente dito, mas sei parir verbo. Porque as minhas fendas auriculares se dopam de Lexotan antes de assistir aos tele noticiários urbanos. Porque odeio a mesmice, porque amo gente idiota e honesta, porque se apaixonar é uma chatice, mas o coração não tem celebro, não tem porta. Blogo-se puder fragmentar, Brecht, Leminski, Che Guevara, Lampião e Maria Bonita, Chico Science, Carlinhos Brown, Antonio Conselheiro, Ferreira Gullar e se o Glauber filmar e o Bressane dirigir. Porque não sou Vaca Profana, mas sou réu confesso, tímido e espalhafatoso. Porque como em London, London eu continuo procurando no alto discos – voadores. Dentro de minha cabeça tem uma nave espacial que produz discos voadores falsos, verdadeiros, carentes, solitários, alegres, muito, muito alegres, às vezes, motivadores de alegria; opostos: simpáticos, antipáticos. Coerentes e in coerentes; dependentes e in dependentes de novo e do novo. Os meus olhos são abridores de latas de laminas afiadas e gulosas á espera da feijoada de letrinhas, do sorvete alfabético e das palavras com Creme de Leite Moça, Adulta e Senhora depravada. A boca é uma saca-rolha que tenta sacar as coisas antes de tudo como uma criança recém-nascida descobrindo o mundo: se maravilhando com beijos, pão amanteigado e café com leite tipo A, B ou C e me assustando com o desrespeito ao ser...melhante. Blogo-me como se eu fosse uma roupa barata e um perfume caro, o melhor profissional do mercado, um anormal sentimentalóide. A música que ninguém ouve ou a que está na MP3 e na rádio do bairro. Blogo – me pelo açúcar e pelo afeto de outros bloggers. Pela compulsão em não suportar ver um papel em branco, porque as teclas me excitam os neurônios e o link é a minha cueca predileta. Blogo-me para saber o que os outros irão pensar, pela sala de cinema lotada, pelo teatro de fato, pelo texto cheio de agrotóxico verbal, pelas letras desidratadas, pela palavra envenenada que perdeu a última gota do antídoto da salvação. Blogo – me pela absolvição e a condenação, pelo eu "achismo". Pelo absorvente intimo em meu ouvido e o frio no umbigo. Blogo-me porque queria ser o Nosso Senhor Aparecido e dormir depois de ter aparecido. Blogo-me também por gente bacana e por adorar fim de semana. Pelo José Datrino – o Poeta Gentileza – porquê blogar é um ato gentil e sou "filho deste solo és mãe gentil, Pátria Amada Brasil".
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